terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fui almoçar às 2 da tarde, no Mc Donald's, e quando estava procurando um lugar para sentar no salão lotado, um casal de velhinhos me convidou a sentar com eles. E quando eu digo "velhinhos" quero dizer bem idosos mesmo, destoando totalmente dos adolescentes em volta.
Primeiro demorei a perceber que o senhor estava falando comigo, pois normalmente quando sentamos na mesa de desconhecidos cria-se uma barreira que não me permite prestar atenção na conversa alheia. Pois ele estava comentando "que absurdo, tantas pessoas sentadas sozinhas em mesas que caberiam várias, o que custava convidar alguém para sentar junto?". Em seguida ele perguntou qual era a minha nacionalidade, e o fiz repetir três vezes a pergunta porque não é todo dia que a gente ouve isso. Eu respondi "brasileira mesmo", e ele, "não, não, sua origem". Aí claro eu disse "espanhola" toda orgulhosa e ele disse "então você é árabe. Porque os árabes ocuparam a Espanha por mais de 200 anos". Não sei porque ele disse isso, talvez ele seja árabe, mas achei no mínimo interessante ouvir isso logo depois de tatuar um símbolo árabe que está numa cidade da Espanha de onde veio a minha família (não estava aparecendo).
Em seguida a esposa perguntou que horas eram e ele demorou uns 5 segundos para puxar a manga do paletó e olhar o relógio de pulso, o que me fez ficar pensando muito no que é ser idoso nos dias de hoje. Eu fico aqui toda cheia da minha juventude, querendo fazer mil coisas ao mesmo tempo e olhando a hora de cinco em cinco minutos no celular, e o que eu quero fazer do meu tempo? Como é o tempo de alguém que "demora" para fazer os gestos mais simples? Acho que deve ser muito mais valorizado.
Depois o casal se levantou, perguntou meu nome e disse o nome deles, desejou "um bom apetite", "um feliz natal" e "uma boa tarde".
E o que ficou na minha cabeça foi "por que eu não arranjo mais tempo"? Por que gastar o tempo só com trabalho, preocupação de emagrecer, pagar contas e cumprir compromissos? Por que todo mundo não tem um tempo para ouvir os mais velhos? Para fazer amizade com desconhecidos numa refeição?
Eu preciso de mais tempo. Para ler, para dançar Flamenco, para sentir, para escrever e para viver poesia. E não quero perceber isso só quando o movimento dos meus dedos não estiver mais tão ágil.

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